24/10/2010

Ano 2003 - Torta na cara de Genoino

Deu bolo. Como protesto pela ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Davos (Suíça), uma manifestante de um movimento que se autodenomina Confeiteiros sem Fronteiras jogou uma torta de morango com chantilly no rosto do presidente nacional do PT, José Genoino.

A manifestante estava acompanhada de dois jovens, um deles com uma câmera digital para registrar a ação. Quando Genoino respondia sobre a forma como o PT quer interferir no debate internacional, ela abaixou-se e tirou a torta de uma bolsa. Rapidamente, levantou-se e foi em direção a Genoino, que estava de terno, sentado. Lançou a torta no rosto do petista e disse: "Lula não representa a gente em Davos. As pessoas das ONGs, nas ruas, representam".

"Calma, pessoal", foi a reação imediata de Genoino, com a face inteiramente coberta pelo chantilly. A jovem, de óculos e cabelos curtos, aparentando entre 25 e 30 anos e portadora de uma credencial de "imprensa alternativa", desceu correndo quatro andares pela escada e tomou um táxi na porta do hotel, recusando-se a se identificar para os jornalistas.

Havia 37 pessoas na sala do quarto andar do Hotel Sheraton, em Porto Alegre. A manifestante estava sentada na segunda fila de cadeiras, a cerca de três metros da mesa em que estavam Genoino e os secretários municipais de Porto Alegre Gerson Almeida (Governo) e Adeli Sell (Produção Industrial e Comércio).

O presidente do PT havia acabado de participar de debate no estádio do Gigantinho, onde acompanhou por meio de telões o discurso de Lula no Fórum Econômico Mundial. Convocou a entrevista coletiva para comentar a proposta levada pelo petista a Davos. Havia falado por cerca de 30 minutos. Às 13h40, recebeu a torta de morango no rosto.

Na sala, antes da fuga, os manifestante deixaram uma nota: "Repudiamos a confusão promovida pelo Partido dos Trabalhadores, que quer fazer crer que o nosso movimento, o movimento dos movimentos, pode ser representado ou encarnado em algum tipo de governo. Nós, confeiteiros, viemos a público dizer que a onda que levou à eleição do PT não é, de forma nenhuma, a mesma da ascensão do movimento contra a globalização capitalista".

O texto se refere à afirmação de Lula de que levaria a mensagem de Porto Alegre a Davos. "Nosso movimento não tem líderes ou representantes. Ninguém pode falar em nosso nome. Se alguém em Davos "representa" o movimento, somos sós mesmos, os milhares que ocupamos as ruas de Genebra em protesto contra a reunião de banqueiros, empresários e governantes, que o PT legitimou."

A nota critica o partido e afirma que Genoino foi saudado "no espírito de Larry, Curly e Moe", personagens da série de televisão norte-americana "Os Três Patetas", criada há 75 anos.

"A esperança de mudança que trazemos não pode uma vez mais ser cooptada e frustrada por políticos e partidos políticos que querem se promover às nossas custas. Desta vez, vamos fazer as coisas de maneira diferente. "Que se vayan todos!" Um mundo sem líderes é possível", conclui a nota.

A frase em espanhol, que quer dizer algo como "que partam todos", foi o lema das manifestações públicas na crise política argentina de 2001 e 2002.

Após tirar o paletó e ter limpado o rosto, com a ajuda da mulher, Rioco Kayano, Genoino prosseguiu a entrevista.

Fonte: Folha de S.P.

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